Nada como um amor quebrado.

 

De repente, repassei nossas conversas na minha cabeça provavelmente um milhão de vezes, incapaz de encontrar uma solução para o que realmente aconteceu entre nós. Eu acho que eu só preciso sorrir e esquecer. Esquecer todas as nossas conversas profundas e esquecer como era dormir ao lado um do outro por chamada de vídeo. Acho que tenho que esquecer a maneira como nos complementamos e como enchemos um ao outro com o que cada um precisava. Esquecer todas as vezes que secretamente olhamos um para o outro durante essas longas conversas e eu provavelmente vou ter que esquecer todas as vezes que te dei conselhos sobre relações, que eu sabia que, provavelmente, foi doloroso para você manter. Terei que esquecer, também, os nossos mal-entendidos e os nossos argumentos estúpidos, ainda que isso foi só nós sendo mais bobos do que nunca.

Nunca pensei que isso significasse algo a mais para mim do que realmente pareceu. Nunca pensei que nos perderíamos um ao outro, e certamente nunca poderia ter antecipado que as coisas acabassem como elas acabaram. E aconteceu exatamente o que eu te disse: “deixe-me ir”. Estabelecemos padrões e construímos muros para evitar que ficássemos esperando novamente. Esperando que um de nós tomássemos a decisão certa, ainda que não fosse a que queríamos para nós dois,  mas que a princípio, parecia a mais sensata para nós dois. Não aconteceu, então decidi não me deixar ir novamente. E acredite, ainda sinto o peso desta decisão. 

Temos sido estúpidos o tempo todo. Ao que parece, você nunca se importou, ou pelo menos foi o que pensei. Acabei por me dar conta que sim, você se importa. Agora você se agarra à esperança de querer me ver. Agora você está confusa. Agora sou eu quem se lembra. Teve de deixar ir alguém a quem você tem tentado se conectar há tanto tempo. Teve de deixar de lado a única pessoa que realmente se importava. A única pessoa que realmente te conhecia e nunca te julgou. Desculpa, amor. Já não sei como me sentir. Estou agarrado a esta ideia de que acabamos de nos conhecer mas na hora mais equivocada possível. E talvez você também soubesse disso. Porque o tempo todo você nunca quis um relacionamento, mas todo mundo poderia dizer que havia algo entre nós.

O que acontece com o tempo que passamos e a química inegável que compartilhamos e que você me disse que também sentia? Isso era totalmente irreal? Eu me afastei para me salvar da mágoa. Você me disse que tentou não me enviar uma mensagem, mas sua mente apenas se desviou para mim quando você estava livre. Você realmente queria que as coisas pudessem dar certo entre nós, mas você não quer perder tudo. Aquele olhar de agonia em seu rosto me fez perceber que eu realmente queria você na minha vida, porque eu pensei que eu encontrei alguém com quem realmente queria estar.

Provavelmente um dia o encanto seria quebrado e o desencanto com a realidade a tornaria mais sensata e ela deixaria de me ver como agora e não buscaria mais minha cumplicidade com piscadelas e sorrisos, mas cada discussão nos distanciaria. E ela parava de vir na minha casa à tarde e não assistíamos filmes nem dançávamos no sofá, nem ela lia para mim.

E talvez eu seja estúpido por continuar pensando que você decidiu me esperar apesar do tempo, apesar da distância. Com certeza outro descobriu todo aquele valor que um dia encontrei em você e que não soube guardar, e talvez tenha conseguido fazer você se apaixonar por palavras bonitas e ações nobres. E nessas indagações a vida vai seguindo, as estações passam, o trânsito de pessoas não para e aproxima-se o momento da despedida. Uma despedida sem palavras, olhares ou gestos de qualquer espécie, mas com a simples sensação de que a distância entre nós aumenta e aumenta.